segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Entrevistas - Educadoras

Ao longo deste semestre questionámos algumas educadoras acerca da gaguez. Optámos por não transcrever essas entrevistas mas sim, fazer uma análise de algumas dessas respostas. Numa primeira abordagem, foi notória a falta de conhecimentos que possuíam sobre esta problemática.
Quando questionadas acerca do que é a gaguez, todas elas responderam corretamente, umas de forma mais completa do que outras: “Disfunção da fala com repetições de sons e bloqueios.”; “Falta de fluência no discurso com bloqueios, repetições e prolongamentos de sons.”.
 No entanto, quanto à etiologia desta patologia obtivemos diversas respostas (nem todas elas corretas): “fatores genéticos”; “ansiedade”; “medo de falar”; “querer falar depressa”; “susto”… Aqui verificámos que ainda persistem alguns mitos quanto à gaguez, pois como temos vindo a referir neste blog, a causa da gaguez não é nem um susto, nem o medo de falar.
Quanto às estratégias que adotariam para uma melhor integração no meio escolar obtivemos algumas respostas corretas (“Não apressar a criança a falar, não interromper, não terminar as palavras pela criança…”; “Dar oportunidade de falar, falar pausadamente sem pressas, tenho a preocupação de não o corrigir”), mas também algumas incorretas (“Pedir para falar devagar/ respirando pausadamente”).
Todas elas reconheceram não terem as ferramentas necessárias para identificar possíveis casos de gaguez, achando que deveria existir mais informação de modo a poderem atuar da melhor maneira possível perante estes casos.
Quando entregámos o questionário às educadoras foi-lhes pedido para responderem apenas àquilo que sabiam sobre esta perturbação da fluência. No entanto, ao recolhermos os questionários verificámos que uma das educadoras, talvez por não ter conhecimento suficiente sobre a gaguez, recorreu à internet para responder às nossas questões. Observámos que uma das fontes que ela utilizou para responder foi o nosso Blog. Assim, apesar de não ser este o objetivo do nosso questionário podemos concluir que o nosso Blog está a ser uma boa ferramenta para informar e elucidar as educadoras acerca da gaguez.


O Discurso do Rei

Olá a todos!

Hoje vimos sugerir-vos a visualização de um filme - "O Discurso do Rei" (The King's Speech).

Este filme é baseado na história real do Rei George VI. Fala sobre a sua inesperada ascensão ao trono e a sua luta contra a gaguez.
Desde os 4 anos que George (Colin Firth) gagueja. Este é um sério problema para um integrante da realeza britânica, que frequentemente precisa fazer discursos. George procurou diversos médicos, mas nenhum deles trouxe resultados eficazes. Quando a sua esposa, Elizabeth (Helena Bonham Carter), o leva até Lionel Logue (Geoffrey Rush), um Terapeuta de Fala de método pouco convencional, George está desesperado. Lionel coloca-se de igual para igual com George e atua também como seu psicólogo, de forma a tornar-se seu amigo. Os seus exercícios e métodos fazem com que George adquira autoconfiança para cumprir o maior dos seus desafios: assumir a coroa, após a abdicação de seu irmão David (Guy Pearce).
É um filme de grandes emoções, que retrata as dificuldades de uma pessoa que gagueja e o modo como esta consegue ultrapassar essas dificuldades, tornando-se uma inspiração para o povo.

Este filme tornou-se uma mais valia pois oferece ao público uma visão mais madura e realista da gaguez, dando oportunidade de realmente ter empatia e entender o que se passa com uma pessoa que gagueja.


domingo, 16 de dezembro de 2012

O Programa Lidcomb

Anteriormente, neste Blog, falámos sobre duas abordagens de intervenção terapêutica: a Modificação da Gaguez e a Modelagem da Fluência.
Hoje vimos apresentar mais uma dessas abordagens: o Programa Lidcomb que foi desenvolvido pelo Centro Australiano de Investigação da Gaguez, na Universidade de Sidney.
O Programa Lidcomb é uma intervenção comportamental desenvolvida especificamente para crianças que gaguejam em idade pré-escolar.
Este programa é administrado pelos próprios pais ou cuidadores, no dia-a-dia da criança, e não pelo Terapeuta da Fala. O Terapeuta tem como objetivo, ensinar e guiar os pais durante a intervenção (visitas domiciliares).

O Programa Lidcomb inclui duas fases. 
Durante a primeira, a criança deverá reduzir a gaguez. Os pais são ensinados a elogiar o discurso fluente do filho e a corrigir suavemente as disfluências do discurso. 
O objetivo da segunda fase é de manter a gaguez “afastada” por um longo período de tempo. Os pais continuam a responder ao discurso dos seus filhos com elogios ou correções suaves, mas vão retirando gradualmente esse feedback e a frequência das visitas ao Terapeuta da Fala vão diminuindo.
 
A administração do Programa Lidcomb baseia-se fortemente na medição das disfluências. Na verdade, a intervenção não pode ser feita sem esta medição. Esta é utilizada para:
- Verificar se a gaguez da criança está a melhorar e no caso de não haver sinais de melhoria realizar os ajustes necessários.
- Identificar com precisão a altura em que a criança atingiu os critérios de recuperação.
- Verificar se o discurso da criança continua a atender a esses critérios a longo prazo.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Entrevista - Terapeuta da Fala: Parte 2

5 - Estando esta criança em idade pré-escolar, já se consegue perceber se está perante uma disfluência fisiológica ou se está perante um quadro mesmo de gaguez? Como fez essa distinção?
Existem fatores de risco, descritos na bibliografia que nos permitem perceber se estamos perante uma difluência normal do desenvolvimento ou uma gaguez “verdadeira”. São eles: 1) antecedentes familiares; 2) o facto de a gaguez surgir depois dos 4 anos de idade; 3) ter uma duração superior a 6-12 meses; 4) o género (masculino ou feminino); 5) fatores linguísticos; 6) existência de tensão física; 7) temperamento; 8) existência de consciência da criança sobre a sua gaguez; 9) ambiente família.
Neste caso específico, apesar de a criança ainda estar numa idade em que a ocorrência de remissão espontânea é possível, apresenta alguns fatores de risco que devemos ter em consideração: 1) A criança gagueja há mais de 12 meses; 2) Apesar de não demonstrar sinais de tensão física, faz mais de duas a três repetições nas palavras gaguejadas; 3) Apresenta consciência da sua dificuldade; 4) o ambiente familiar constitui-se como um dos fatores com mais relevância neste caso em específico, uma vez que a criança só gagueja na presença dos pais.

6 - Quais as dúvidas mais frequentes que os pais lhe colocam acerca da gaguez?
As dúvidas mais frequentes relacionam-se com a etiologia da problemática e tratamento. Infelizmente ainda estão muitos mitos enraizados na nossa população e ainda permanece a ideia de que a gaguez é causada por um susto. O tratamento é uma das questões que aparece logo no primeiro dia de consulta, pois a maior parte dos pais vêm com a ideia da cura. Numa fase inicial muitos pais, acabam por ficar desiludidos, ou frustrados com o facto de não existir cura para a gaguez.
Existe ainda dúvida dos pais de crianças com gaguez relativamente à forma como reagir perante um momento de disfluência. Os pais querem ajudar os filhos, aquando um momento de gaguez, mas nem sempre sabem o que fazer e muitas vezes acabam por ficar ansiosos. Muitas vezes, esta ansiedade e sentimento de impotência perante a dificuldade do filho passa para as crianças que ainda se sentem menos confiantes e mais culpadas pela sua gaguez.
  
7 - Acha que a população em geral está devidamente informada acerca desta problemática? Se não, como acha que se poderia passar essa informação à comunidade?
Nos últimos anos, penso que assistimos a um aumento da informação relacionada com esta problemática. Uma grande ajuda foi, sem dúvida, o filme “The King’s speech”, que fez com que grande parte da população ficasse mais sensibilizada para as questões relacionadas com a gaguez. Ainda assim, a nossa sociedade continua enraizada com mitos que já deveriam ter desaparecido há décadas. Ainda persiste o mito do “susto”, da “respiração” como técnica de intervenção na terapia da fala, das questões “psicológicas”, entre outras…
Para criarmos campanhas de divulgação com o objetivo de fornecer informação à comunidade, temos em primeiro lugar de perceber quais são, exatamente os mitos e as duvidas que persistem na nossa sociedade, só assim conseguimos fazer uma divulgação efetiva.
Precisamos sem dúvida de criar estratégias para informar a população médica. Quando existe algum problema/dúvida relacionado/a com as crianças, os pais dirigem-se em primeiro lugar aos médicos. A maior parte dos médicos não tem em atenção os fatores de risco na gaguez e guiam-se somente pela taxa de remissão espontânea, pelo que são “perdidos” muitos casos onde poderia ter existido uma intervenção precoce. 
Precisamos ainda de informar os professores, que lidam diariamente com as crianças Para quem encaminhar? O que fazer quando as crianças estão a gaguejar em sala de aula? Estas são duvidas comuns nos professores, mas que vão sendo esquecidas, porque a turma é muito grande e não dá para prestar atenção apenas a uma criança, o tempo é reduzido, há outras coisas “mais” importantes a fazer…E o tempo vai passando…
Infelizmente a gaguez não é considerada uma dificuldade prioritária, logo as crianças com gaguez são facilmente “passadas à frente” por outras crianças com problemáticas mais “graves”, nos atendimentos públicos (hospitais e centros de saúde). Cada um de nós tem que lutar a sua maneira para que a “voz” destas crianças também seja ouvida e, sobretudo, lutar em conjunto com as organizações que se destinam a este fim, tais como a Associação Portuguesa de Gagos e a Associação Portuguesa de Terapeutas da Fala. Em equipa, em conjunto, conseguimos fazer mais e melhor.

       Com esta entrevista, esperemos ter elucidado as pessoas acerca da maneira como se processa a intervenção terapeutica num quadro de gaguez.

Entrevista - Terapeuta da Fala: Parte 1

     Depois da entrevista que vos deixámos com a mãe de L., queremos agora apresentar o testemunho da Terapeuta da Fala que acompanha esta mesma criança.

1 - Como se processa uma intervenção num quadro de gaguez? Quais são os principais objetivos terapêuticos quando estamos perante um diagnóstico de gaguez nesta idade?
Tudo depende da pessoa que temos à nossa frente. A gaguez está longe de ter manuais pelos quais nos podemos guiar. Em primeiro lugar temos que perceber quais são os objetivos para aquela criança que serão discutidos entre o terapeuta e os pais da criança. Muitas vezes é necessário adequar as expectativas dos pais, que na sua maioria estão relacionadas com a “cura”. Assim, é fundamental fornecer conhecimento fidedigno aos pais acerca da gaguez e orientá-los em relação a uma adequada interação com a criança. Existe com grande frequência pais que adotam estratégias como: “fala mais devagar”, “não faças isso”, “ respira fundo…”, entre outras. Existem ainda várias abordagens pelas quais nos podemos guiar. Existe um programa específico para as crianças: o “Lidcomb program” - que tem grande evidência científica, ainda assim este método é contestado por vários terapeutas da fala, por várias razões. A abordagem, inicialmente criada por Van Riper: Stuttering Modification também pode ser facilmente adaptada e utilizada com crianças, principalmente nas etapas terapêuticas que ele propõe.
Mais uma vez ressalto que não existem “receitas” na intervenção com a gaguez, por isso o mais importante é conhecermos a pessoa que está à nossa frente e escolher a ou as abordagens que melhor se aplicam ao caso em particular.

2 - Há quanto tempo está com a L. em intervenção? Como tem sido a sua evolução durante este tempo?
A criança foi sinalizada através de uma checklist que deteta dificuldades no âmbito da terapia da fala. Foi realizada uma anamnese à mãe e foram dadas orientações. A partir daí tenho mantido contato com a mãe, de forma a perceber as alterações que ocorrem na fluência da criança. Desde aí a criança tem passado por fases mais fluentes e menos fluentes. Gagueja exclusivamente com os pais. Têm sido dadas algumas orientações aos pais neste sentido. Nas últimas duas semanas a mãe referiu que a criança “estava numa fase boa” .

3 – Neste caso específico quais são as principais técnicas que utilizam na intervenção direta?
Ainda não foi feito nenhuma sessão de intervenção direta com a criança, no entanto penso que caso ocorra essa necessidade, as sessões iniciais terão que incidir sobretudo na dessensibilização para a gaguez e devem ter a presença dos pais, uma vez que é com estes que a criança gagueja mais. A criança deverá compreender que tem “permissão” para gaguejar junto dos pais e que estes não a vão “punir” de nenhuma forma por isso. Ao perceber isto a criança vai diminuir o medo que tem de gaguejar em frente dos pais e automaticamente vai diminuir as disfluências no seu discurso.

4 - Como é realizada a intervenção indireta neste caso? Quais são os principais intervenientes deste processo e de que forma é que intervém junto deles?
Neste caso os principais intervenientes são a educadora e os pais. A educadora foi importante sobretudo para fornecer algumas informações, mas não foram dadas quaisquer estratégias, uma vez que a criança não gagueja na escola. Foram dadas estratégias aos pais relacionadas com o tipo de comportamento a ter perante momentos de gaguez.

Entrevista à mãe de L.

       Olá a todos!

       Neste post, podem encontrar uma entrevista que realizámos a uma mãe de uma criança que gagueja e que se encontra na idade pré-escolar. Esperemos que seja útil para todos aqueles que tenham filhos com esta perturbação da fluência e assim não se sintam tão angustiados.

1 - Quando é que o seu filho começou a gaguejar? Quais foram os sinais de alerta?
Por volta dos 2 anos de idade, a L. levava muito tempo até conseguir dizer a palavra.

2 - Tem ideia da causa da gaguez do seu filho?
Antes de falar com a terapeuta da fala pensava que estava relacionada com a ansiedade. A terapeuta já me explicou que não existe uma, mas sim várias causas, no entanto ainda estou um pouco confusa em relação a esta parte.

4 - O que a levou a recorrer a um Terapeuta da Fala?
Há algum tempo que pensava em recorrer ao terapeuta da fala, mas o pediatra dizia-me sempre que a gaguez da L. era normal e que com o tempo a gaguez ia desaparecer. Eu inicialmente ficava descansada, mas depois vi que não passava… Fui informada acerca de rastreios gratuitos na escola e decidi inscrever-me para tentar perceber melhor o que estava a acontecer à L.

5 – Quais são as expectativas em relação à Terapia da Fala?
Eu gostava muito que ela deixasse de gaguejar…se bem que sei que talvez isso não seja possível. Quero sobretudo que a minha filha não sofra e que seja feliz!

6 - De que forma é que a Terapia da Fala está a ajudar o seu filho? E a si, também a ajuda? De que forma?
Nos momentos em que a L. estava a gaguejar eu ficava sem saber o que fazer. Não sabia se devia esperar por ela, ou se a devia ajudar….por vezes ela estava tão aflita…agora já sei o que devo fazer para ajudá-la nestes momentos, ainda assim nem sempre é fácil.

7 - Acha que o seu filho tem consciência de que gagueja? Se sim, como acha que ele adquiriu essa consciência?
Sim, houve um altura que ela própria dizia que não conseguia falar. Ultimamente nunca mais falou disso.

8 - Em que momentos/situações o seu filho gagueja mais? Com que pessoas isso acontece mais? Sabe porque isso acontece?
A minha filha gagueja sobretudo em casa, na escola, segundo a educadora, ela não gagueja.

9 - Acha que a população em geral está devidamente informada acerca desta problemática? Se não, como acha que se poderia passar essa informação à comunidade?
Acho que não. Estes problemas deviam ser mais falados na televisão, por exemplo. Fazem tantas reportagens sobre a deficiência e sobre a diferença, porque não fazer uma sobre a gaguez?

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A Gaguez tem cura?

Não, a gaguez não tem cura, contudo com a ajuda de profissionais especializados, os sintomas poderão ser atenuados.
Na Terapia da Fala, a criança poderá aprender uma forma mais fácil de falar, com recurso a técnicas e ferramentas que são ensinadas pelo Terapeuta da Fala. Um dos objetivos centrais é ajudar a criança a ser um melhor comunicador, com confiança nas suas competências e habilidades, capaz de controlar as emoções negativas que muitas vezes surgem como fruto da incapacidade de falar fluentemente.

Assim, torna-se fundamental intervir o mais precocemente possível, evitando que a gaguez condicione a vida da pessoa. Na intervenção direta o Terapeuta da Fala utiliza essencialmente duas abordagens.

Uma das abordagens mais utilizadas, com crianças que gaguejam, é a Modificação da Gaguez (Stuttering Modification). Esta abordagem foi inicialmente proposta por Van Riper e não tem como objetivo eliminar a gaguez. Em vez disso, as metas são:
- Modificar os momentos de gaguez: gaguejar de uma forma mais fácil;
- Reduzir o medo de gaguejar, eliminando comportamentos de evitação associados.

Outra das abordagens utilizada é a Modelagem da Fluência (Fluency Shaping). Este tratamento centra-se na procura da fluência (débito, fala lenta, fala prolongada), promovendo a sua generalização a diferentes contextos. Este método dá pouca importância à redução de sentimentos, como o medo e evitação de palavras ou situações.

É também essencial que o Terapeuta da Fala realize uma intervenção indireta com os pais, de forma a:
- Explicar o programa terapêutico e qual o “papel” dos pais;
- Discutir possíveis causas da gaguez;
- Identificar e reduzir situações que promovem a interrupção da fluência;
- Identificar e aumentar situações que promovem o aumento da fluência.
 

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